sábado, 11 de fevereiro de 2012

Fds

- Cala a porra da boca, Jorginho! Não está vendo que essa merda toda está engarrafada! Faz esse garoto parar de chorar, Lisa! Não está vendo que estou irritado! Plena sexta e esse trânsito assim! Que merda! Vamos chegar que horas? Antes tivesse saído no sábado pela manhã... Dá um jeito aí no seu filho porra! Que merda deve ter acontecido? Deve ser essa porra de Lei Seca... Ainda bem que não bebi caralho nenhum naquela merda de churrasco da sua mãe... Festinha de merda... E ainda ouvir desaforo dela... Que estou desempregado porque eu quero... Sua mãe é uma vaca mesmo... Foda-se você! Já disse que não suporto ir na casa da sua mãe... E você sempre com seu jeitinho acaba me convencendo a ir...
Uma bela sinfonia de buzinas irradiava pela estrada congestionada. Faróis ligados. Alguns motoristas saíam do carro a fim de ver o que estava acontecendo. Muitos trocavam palavras, buscando razões para aquele engarrafamento instantâneo.
- Mas que coisa, não é? Estávamos com um pouco de pressa, porque estamos indo visitar um primo que está nas últimas...
- Que pena... E esse calor, hein? Nós querendo fugir dessa cidade, querendo descansar nesse Carnaval longe do tumulto e acaba que o tumulto nos persegue! Deve ser o destino...
- Puta merda!
Já se ouvia, a distância, uma confusão entre dois motoristas. Um deles tinha mandado beijinhos para a namorada do outro. Os que estavam próximo saíram para apartar a briga.
- Vagabunda! E você rindo dessa putaria! Gostou desse filho da puta, foi? Sai do meu carro, sua vaca!
- Fala direito comigo! Você quer que eu faça o quê? Você é uma droga de homem...
Meia hora de engarrafamento. Ainda não chegou polícia ou bombeiro. Muitos estão de celulares em mãos. Ligando para algum familiar que os esperam; ligando pedindo ajuda; ligando para a polícia; ligando para alguma rádio informando o absurdo da demora dos bombeiros; ligando para a amante, avisando que vai chegar atrasado, pois um engarrafamento do inferno pegou de surpresa; jogando algum joguinho do celular para ver se o tempo passa mais rápido e se se acalma.
Começa um burburinho nervoso, parecendo aquela brincadeira de criança: telefone sem fio. A informação vem chegando às pressas, e carregada de irritação, nervosismo, batidas no carro, xingamentos, cusparadas no chão, olhos esbugalhados, choros de crianças, aflições, orações a Deus, aos santos, aos orixás.
- Estão dizendo aí que uma mulher se jogou na frente do caminhão...
- Nossa senhora! Que horror!
- Não é bem assim não. Disseram que ela tinha discutido com o namorado e que ele terminou com ela. Por isso ela quis se matar. Disseram até que tem um bilhete em uma das mãos da garota...
- Mas ela tinha que se matar justo hoje! Que inferno! Atrapalhando a viagem de todo mundo! Tenho negócios a resolver da minha empresa e não posso ficar aqui esperando...
- Não é só você que tem coisa séria pra resolver! Minha tia está internada no hospital, com câncer... Estou indo lá visitar ela...
Depois de duas horas de irritação, desespero, brigas de casais, choros de crianças, desmaios, o trânsito começa a fluir.

Gabriel Sant’Ana

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