quarta-feira, 10 de outubro de 2012

11


Barulho do funcionamento. Pessoas silentes olhando ansiosas os números avermelhando-se na subida crescente, desejantes. Nada mais. Sacro sepulcro, resignada oração esperançosa. As órbitas em movimento. Respiração abafada. Segurando a tosse, o espirro. O celular no silencioso. O diário trabalho mecânico de elevar carga humana. Doze andares. Um peso certo exige. Espremendo um tanto para compensar a pressa angustiante contra o atraso. Sempre que para, a beleza estática das conformidades das massas dissipa-se em um fluxo seminal de odores, cabelos, pernas, bolsas, esbarrões, desculpas e obrigados.

Mas aquilo estava ali. Sem aparência, como todos. Disforme. Disfuncionando. Como todos, sendo seguinte. 

Aquilo era apenas um ruído ou mancha da cena.

Bastava.

Os papeizinhos partidos ao sabor da queda livre. Cair constante, volteando-se pelo vento, demorando-se até atingir.

Aquilo estava ali e todos inertes viram apáticos.

Aquilo era tentando sair daquele mecânico funcionamento sufocante.

Aquilo era indo em papeizinhos.

Décimo andar. Entraram. Fechou-se. Entreolharam-se boquiabertos. Alguns mandando mensagens. Fazendo ligações.

Obrigatória a saída ao chegar ao térreo.

Chegaram.

O barulho da máquina cessou ao abrir da porta.

Gabriel Sant'Ana

Nunca virá a Liberdade ainda que espere;
Cedo ou tarde nunca seus olhos
Hão de voltar. Longo tempo passou
E eu ansioso esperando.
Muito fiz e deixei,
Minha mão ocupei em árduos,
E sempre vazia voltava.
Invoquei tudo quanto deus houve,
E nenhuma palavra.
Só o eco
Da minha rouquidão.
Assim declaro.
As marcas da gilete no rosto
De tanto fazer a maldita barba
Que ainda não cai branca.
Volto ao antigo caminho,
Seguindo teus passos,
Impossível via de imolação
Por que me adentro
E me contamina.
A ti meu silêncio oferto.

Gabriel Sant'Ana

Praça dos sobreviventes

Saindo do portão gradeado e alto da escola, há uma praça que fica em frente, a uns dois metros, de uma igreja que abre às seis da manhã, cu...