Domingo. Comunidade festejando mais uma vitória do time ao
som do pagode, muito churrasco, cerveja, refrigerante para as crianças. Pula-pula,
pelada no meio da rua. Noite refrescante. Lua e estrelas. Céu limpo. Namorados se
beijavam e se prometiam uma vida melhor, um apartamento na Barra ou em Vila
Isabel.
Foi o momento de levar o filhinho de um ano para casa.
Mas quem é? Não tem identidade nem certidão de nascimento. Só
existe de boca-em-boca. Só existe porque está no chão com a cabeça estourada pelo
tiro de fuzil. Só existe porque o pessoal a conhece de tanto que ela passava
todos os dias indo para o colégio de mãos dadas com a mãe. Só existe porque
saiu hoje no jornal.
Mais uma nossa senhora da piedade chora seu filho nos
braços. Mais de uma lágrima rola de seus olhos, sua garganta está ressecada de
angústia e desgraça. Multidão indignada, aflita, senhoras cardíacas desmaiam. Alguém
avise o pai.
Terá o corpo enterrado quando os pais resolverem a
documentação.
Gabriel Sant’Ana
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