Era nas sombras de
uma imensa árvore que o sopro se fez mais forte e o derrubou na relva para seu
próprio infortúnio. Talvez assim dissesse o parágrafo.
Talvez, porque foi
interrompido e não o concluiu para angústia de um viajante.
Mas no princípio
estava em uma fila do supermercado, desesperado pelos muitos carrinhos a sua
frente, pelo horário que não seria obedecido, e se lembra de que faltava apenas
um pacote de macarrão e pede para alguém guardar seu lugar.
Apressado se
encaminha para o corredor das massas. Seria melhor não nas sombras, risca isso
na mente, depois quando estiver em
casa. Mas não era esse o corredor das massas? Será então que
teria se desviado para a esquerda, e o tal lugar era para a direita?
- Poderia me dizer
para onde fica o macarrão?
- Claro! Segue em
frente e quando chegar na padaria vire à esquerda. Não tem erro.
- Obrigado...
Não corre para não
parecer perdido ou que não desconfiem dele.
O sopro penetra-lhe
os ouvidos e uma tontura toma conta de seu corpo, deixando-o perdido no caminho
de volta para sua terra.
Faz o caminho ensinado
pela pessoa. Chega ao destino. Mas que macarrão levar? São todos iguais, apesar
das marcas e dos preços. São todos iguais? Para seu próprio infortúnio.
Não se decide. Não sabe
tomar decisão. Não quis atender o celular.
As pessoas na fila estão
nervosas porque o estão esperando. Todas as filas não andam. Todos parados.
O momento da
espera, o momento em que tudo está estático na criação, aguardando a palavra. E
quando ela for pronunciada tudo se resolve e no final apenas uma frase que
conclua.
Sua mulher o
esperava dentro do carro à sombra de uma imensa árvore e o sopro se fez mais
forte penetrando-lhe o peito e extraindo-lhe a respiração, é derrubada. Ele se
demorava minutos e minutos na escolha de um macarrão que não será feito para a
janta do casal que não mais existe, demorava-se na escolha das palavras de um
livro na metade que deixará de ser feito. Percebe que no celular há uma ligação
perdida (da mulher). Era o sétimo dia da semana.
Gabriel Sant'Ana
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