domingo, 18 de março de 2012

Nem para a direita nem para a esquerda

Deixe o garfo sobre a mesa à direita do prato. Não mexa no copo se não for usá-lo. Só se sente à mesa de quatro lugares se vier acompanhado. Não se admite a espera por outras pessoas dentro do estabelecimento. Todo incômodo aos demais clientes será cobrado na conta com um aumento de 20% do valor.
Lera o aviso, perplexo. Não poderia andar apressado na calçada do restaurante, não era permitido.
Voltou para casa. Seria realmente naquele restaurante? Não lhe tinham dado certeza. Não ligaram para seu celular. Não faria papel de idiota na rua. Não repetiria aquela cena.
Melhor mesmo voltar para casa. Melhor teria sido não ter saído de lá.
Chegando ao apartamento, depara-se com um papel colado na parede.
Ao sair de casa, retorne em até duas horas depois, do contrário, o morador não poderá entrar no apartamento e poderá ser despejado.
Desistiu de entrar em casa. Não lhe era possível.
Volta para a rua. Ao atravessar para o lado de uma praça que fica em frente ao apartamento e virar para sua esquerda, onde fica um ponto de ônibus, vê uma propaganda. Era uma propaganda?
Fique somente no ponto de ônibus se for usar o transporte público, senão será multado, podendo receber castigos corporais pela não observação desta lei prática do uso de transportes públicos segundo decreto estadual.
Sai do ponto de ônibus e encaminha-se para a praça. Senta-se em um banco. Uma pequena parada para respirar e pensar sobre sua vida, sobre seu trabalho. Por que não foi ao trabalho hoje? Que dia era hoje? Olha para o chão. Ali tinha uma placa de aço com umas palavras.
Olhar para o chão é um ato grave, mostrando às pessoas a sua volta quanto tempo você perdeu na vida, quão confuso está e quão pesada é sua cabeça e seus pensamentos. Isso também mostra como seu corpo está fraco e cansado, certamente porque você não se alimentou direito neste dia. Se ficar mais minutos nesse banco, você será preso por impedir a outra pessoa de descansar em um banco público. Vá ao restaurante comer algo, incomode os clientes e seja preso.

Gabriel Sant’Ana

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